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O DESAFIO DA TRADUÇÃO BÍBLICA POR © Tapajós – inverno 2024 com respeita à tradução da pergunta de Jesus a Maria na festa de casamente de Caná da Galileia.
Que pergunta foi aquela que Jesus fez à sua mãe numa festa de casamento?
O texto é bem curto:
Τί ἐμοὶ καὶ σοί γύναι; (Evangelho de São João 2,4)
Como traduzir essa expressão sem verbo? Cada tradutor ou equipe de tradução precisa decidir o sentido dessa expressão idiomática semítica, pois a tradução literal não faz sentido. Na ordem das palavras:
O que a mim/em mim/comigo/por mim e a ti/em ti/contigo/por ti, mulher?
Ou seja, a tradução literal deixaria o texto confuso, sem entendimento, qualquer que fosse/seja a opção do tradutor.
Comentando algumas traduções:
Traduções Católicas:
“Mulher, que é isso, para mim e para ti?” (CNBB). Os tradutores entenderam os dativos como sendo de vantagem (para mim, para ti). Não explicam o motivo!
“Que queres de mim, mulher” (TEB; BdP). Os tradutores eliminaram o segundo dativo, e transformaram o primeiro dativo em um genitivo. Criatividade!
“Mulher, que nos importa a mim e a ti isso?” (VULGATA). Jerônimo manteve os dativos de vantagem, mas introduziu o verbo “importar-se”, reforçando-os com o oblíquo “nos”. Por quê?
“Mulher, que existe entre nós?” (BEP). Unificou os dois dativos em um só (“entre nós”) e deu sentido à frase com o verbo “existir”. É permitido isso, Arnaldo?
Traduções Protestantes:
“Por que a senhora está me dizendo isso?” (NAA). Não traduziu, apenas interpretou de forma livre!
“Mulher, em que essa tua preocupação tem a ver comigo?” (KJA). Entendeu o pronome interrogativo nominativo como sendo dativo; incluiu o aspecto da “preocupação”; transformou o segundo dativo em genitivo; entendeu o primeiro dativo como sendo de interesse/acompanhamento. Pode fazer isso, Arnaldo?
“Mulher, que tenho contigo?” (ARA; ARC; ACF). O primeiro dativo é entendido no nominativo e o segundo de interesse/acompanhamento – e a sentença não ficou clara!
“Que temos nós em comum, mulher?” (NVI). Transformou os dois dativos em uma proposição nominativa. E não ficou claro o motivo de Jesus fazer tal pergunta à sua mãe!
“O que isso tem a ver contigo, mulher?” (LUTERO). O primeiro dativo foi eliminado, ficando apenas o segundo. Por qual motivo?
“Não é preciso que a senhora diga o que eu devo fazer” (NTLH). Eliminou a pergunta e abusou da criatividade: não traduziu – parafraseou!
O DESAFIO DA TRADUÇÃO BÍBLICA NA PREFERÊNCIA DO AUTOR
Sigo a Bíblia de Jerusalém no entendimento do texto: “Que temos nós com isso, mulher?”, bem como Raymond Brown, um dos maiores eruditos do Ev. de João: “Mulher, o que essa sua preocupação tem a ver comigo?”
Além disso, falta-nos a entonação com que tal frase foi pronunciada. Se Jesus falou isso sorrindo, por exemplo, o quadro todo muda de sentido!
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