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NEM TODA VITÓRIA EXIGE QUE DEMOS CAMBALHOTAS DE ALEGRIA, Texto escrito por © Tapajós – verão 2025, publicado aqui com permissão.
Último torneio do ano, uma partida fantástica de xadrez entre o Grande Mestre ucraniano IVANCHUK e o Grande Mestre estado-unidense NARODITSKY pelo Campeonato Mundial de Blitz. Ivanchuk, reconhecidíssimo em suas genialidades enxadrísticas, tem a vantagem no tabuleiro, mas comete um erro mínimo e perde a partida. Incrédulo, sua reação é absolutamente emotiva – veja vídeo.
Imagem de Jan Vašek por Pixabay – A foto não é a imagem do jogo em questão aqui, mas apenas ilustrativa. As imagens reais estão no vídeo acima. Confira.
Mas quero falar de NARODITSKY, que tinha tudo para soltar um grito, abrir um sorriso e festejar a vitória jogando em casa. Exausto e vendo a reação de Ivan, o mestre americano se contém. Abaixa também a cabeça. Mexe melancolicamente algumas peças do tabuleiro. Depois de um tempo, pega o seu copo, sua bolsa, levanta-se e sai como um fantasma.
Alguém vendo o vídeo pela primeira vez terá dúvidas sobre quem venceu. Naroditsky foi o vencedor e respeitou a dor do derrotado.
Essa é a implacável realidade da vida: há vencedores e perdedores. Ora estamos de um lado, ora de outro. Majoritariamente, conselheiros tendem a oferecer ajuda a quem perde, a quem é derrotado. Mas é preciso, talvez muito mais, que os vencedores recebam ajuda.
Porque vencer nos coloca na posição de superioridade. A hierarquização dos nossos relacionamentos tem o seu lado positivo, mas ela é sempre perigosamente arrogante.
Porque vencer nos retira a sensibilidade: num passe de mágica esquecemos a dor, muitas vezes angustiante, daqueles que são derrotados. Nossas comemorações pelas vitórias não são recheadas de empatia pelos derrotados, mas recheadas de esquecimento deles.
Porque vencer é o resultado de disputas, de embates, de guerras. Diante de cada vitória há um rastro de sangue, morte, frustração, depressão. A História registra: para uma União Soviética vencedora na 2ª. Guerra Mundial, 20 milhões de russos mortos; para oitenta milhões de alemães felizes com 7 gols marcados contra o Brasil, duzentos milhões de brasileiros incrédulos e desnorteados em 2014. Vinte e nove pessoas sobreviveram à queda recente de um avião no Cazaquistão – 38 morreram.
Até quando há empate num confronto, há perdas.
Espera-se sempre que o perdedor seja civilizado, educado, esportista e reconheça de bom grado a vitória do outro. O que devemos esperar dos vencedores além de suas comemorações? Naroditsky nos deixa uma sugestão: nem toda vitória exige que demos cambalhotas de alegria – às vezes é preciso vencer sentindo a dor do derrotado.
Muitos se preparam para a vitória. Poucos estão preparados para agir adequadamente quando vitoriosos.
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